O objetivo principal de qualquer escritor é convencer o leitor de alguma coisa. No caso de um candidato a um cargo público, o objetivo é convencer a banca examinadora da tese que se defende. A maioria dos candidatos tem dificuldade em elaborar uma argumentação eficaz, principalmente por desconhecer procedimentos que garantam a qualidade argumentativa e o convencimento do leitor-examinador.
Primeiramente, um esclarecimento se faz necessário: de maneira geral, em se tratando de argumentação, a verdade não constitui pressuposto necessário de eficácia persuasiva. Por conta disso, a atividade argumentativa tem de ser entendida como um procedimento linguístico.
A natureza essencialmente linguística da argumentação não invalida a importância da formação dos juízos, principalmente quando se tratar de prova discursiva de concurso público. Nesse contexto, o escritor-canditato precisa focar sua estratégia persuasiva no referente, que se consubstancia por meio do conhecimento comprovável teórica ou empiricamente. Esse conhecimento deve, necessariamente, fazer parte do universo intelectual compartilhado por escritor-canditado e leitor-examinador. Isso garantirá, minimamente, a interação entre eles e possibilitará a construção conjunta do sentido do texto.
Toda argumentação eficaz se baseia no conceito de “orientação argumentativa”. Orientar argumentativamente um texto é apresentar um enunciado no qual seu esquema linguístico é uma representação semântica que objetive sempre uma condução indiscutível à conclusão. Podemos afirmar essa teoria da seguinte forma: um conteúdo “X” deve conduzir o leitor a concluir um conteúdo “Y”. A condução à conclusão não pode ser uma faculdade conferida pelo escritor ao leitor, mas sim uma obrigação linguisticamente imposta.
É a orientação argumentativa que deve guiar o desenho da argumentação, ou seja, as escolhas linguísticas que se operam no interior do texto devem ser detalhadamente esquematizadas e projetadas para conduzir ao convencimento do leitor. Esse processo tem por finalidade a comprovação da tese frente ao quadro de problematização sobre o qual se pretende dissertar. Esta comprovação se realiza por meio dos procedimentos argumentativos, isto é, métodos que procuram fortificar ideias e comprovar juízos, sendo que os mais comuns são as modalidades argumentativas e o recurso do viés.
A doutrina linguística não é unânime na disposição de quais são os modais argumentativos. Privilegia-se, neste artigo, abordar os modais de maior significação. Segue a análise de cada um deles.
Argumento de autoridade é a utilização de citação, em discurso direto ou indireto, de um autor, visando dar substância à tese desenvolvida. De maneira geral, o escritor-candidato deve tomar muito cuidado com esse modal argumentativo. Se utilizado de acordo com o proferido pelo autor citado, pode ter grande força argumentativa, mas pode comprometer toda a argumentação, se o leitor-examinador observar erro na citação.
Argumento baseado no consenso é a utilização de conceitos, proposições e máximas aceitos universalmente como verdadeiros e que, por isso, prescindem de demonstração. Note que consenso não é o mesmo que lugar-comum.
Argumento baseado em provas concretas é a utilização de fatos comprováveis, cuja finalidade é o embasamento de uma afirmação que sozinha não teria força argumentativa. Esses fatos devem ser conexos, aceitáveis, apropriados, legítimos, do contrário se estará fazendo um raciocínio artificioso. As provas concretas podem ser cifras e estatísticas, dados históricos, fatos da experiência cotidiana, entre outras.
Argumento baseado no raciocínio lógico é a relação de causa e consequência entre proposições. É o modal que apresenta maior probabilidade de erro na sua utilização, o que resulta em incoerência lógico-textual. Os erros mais comuns são: a fuga do tema, a tautologia e o erro na identificação da causa.
O recurso do viés é também um procedimento argumentativo, cuja função é demonstrar sutilmente o interesse do escritor. É um procedimento que visa manipular o texto, fingindo estar sendo neutro. Ainda que se trate de um texto meramente informativo, a escolha da informação e a forma de comunicá-la demonstram, ainda que sutilmente, o posicionamento do autor frente ao fato. Esse recurso é utilizado para conferir destaque ou ocultação das possíveis teses relativas a um dado problema.
Uma argumentação eficaz é a base da clareza interna de um texto. Quando nos posicionamos perante um problema com o intuito de analisá-lo, de defender uma de suas particularidades, devemos fazê-lo com o respaldo dos procedimentos argumentativos, pois são eles que conferem limpidez ao pensamento.
Bons estudos!
Forte abraço,
Profa. Vivian Müller.
Vivian Müller - Professora de Língua Portuguesa (Produção e Análise Textual), Direito (Administrativo, Constitucional e Internacional) e Comércio Internacional. Bacharel em Direito. Atualmente, cursa Mestrado em Linguística pela UnB. Nessa mesma instituição, também cursou Mestrado em Relações Internacionais. Leciona há quatro anos em cursos preparatórios para concursos.
Site: www.profa-vivianmuller.com .
E-mail: profa.vivianmuller@gmail.com.
Twitter: @Vivian_Muller .
Contato profissional: (61) 3201.8857.
PS1: Para contatar o Prof. Joel Marinho, acesse o site: http://prof-joelmarinho.com.
PS2: Este artigo foi publicado na Revista do Concurso em Foco.
ola bom dia gostaria de saber se vcs tem alguma noticia do concurso do TJMG OFICIAL DE JUSTIÇA AVALIADOR o porque realmente foi suspenso e se tera ou nao o concurso mais esse ano?
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