Pesquisas
realizadas com crianças mostram o seguinte resultado: elas não conseguem
esperar. O teste em comento foi o seguinte: deram às crianças a opção
entre ganhar uma barra de chocolate, imediatamente, ou aguardar trinta minutos
e ganhar duas barras de chocolate. As crianças mais novas optaram por uma
barra, na hora, e à medida que a idade dos entrevistados crescia,
concomitantemente, aumentava o número daqueles que eram capazes de esperar um
pouco para ganhar o dobro.
É óbvio
que você, concursando experiente, já sabe onde desejo chegar.
Concursandos
"meninos", ainda em amadurecimento, não suportam aguardar o tempo
suficiente (adultos vão precisar de mais que meia hora...) para ganhar todo o
chocolate possível; eles preferem menos chocolate desde que seja de imediato. À
medida que "envelhecem", passando meses ou anos no sistema
"concurso público", os concursandos vão aprendendo a abrir mão de
algum chocolate "imediato" em prol de mais chocolate depois.
Concursandos "adultos" sabem administrar o tempo, o lazer e a urgente
e descomunal necessidade de muito estudo, revisão e treinamento.
Não
quero dividir as pessoas em "meninos" e "adultos", apenas
registrar que – como em qualquer projeto – há um processo de amadurecimento
que, muito mais que mudar o grau de conhecimentos auferidos, muda atitudes
e comportamentos.
O
chocolate "da hora" é o passeio, o cinema, a cama (para dormir ou o
que mais você ousar), a festa, o fim de semana e tudo o mais que,
inequivocadamente prazeroso, adia o estudo, a revisão, a realização de questões
de concurso etc.
A
questão da capacidade de ser o senhor de seu comportamento, seu próprio líder,
de ter autodomínio e senso de oportunidade é, no final das contas, uma questão
de maturidade. A mesma maturidade que nos induz a fazer escolhas, escolhas mais
sérias que as relativas aos concursos públicos como a qualidade de nossos
relacionamentos, de nossa alimentação, de nossa forma de enfrentar a depressão
e as crises.
O ponto
que estou defendendo é o seguinte: precisamos amadurecer para a vida. Se o
fizermos, a maratona dos concursos se torna mais simples, pois as regras e
princípios gerais, os valores envolvidos nos sacrifícios, que o concurso pede,
são os mesmos que influenciam as demais áreas da vida. Como digo, nos
concursos, "a dor é temporária, o cargo é para sempre". Isso é até
mais fácil do que outras "dores", como, por exemplo, para mim, todos
os dias acordar e alongar, correr, segurar minha compulsão por chocolate (olha
ele aqui de novo!); todos os dias separar algum tempo para me acalmar, relaxar
(enfrentando meu “work-alcoolismo”).
Nos concursos, os sacrifícios terminam um dia. É bem melhor.
A
proposta para reflexão de hoje é a necessidade de desenvolver a difícil
capacidade de abrir mão do prazer imediato pelo prazer maior no futuro ou, em
outras palavras, trocar prazeres menores por prazeres maiores no futuro. É uma
troca, um negócio, um investimento, um plano, um desafio, uma idéia.
Se você
pensa que isso é difícil, então me permita complicar um pouco mais essa
equação. Abdicar totalmente do "chocolate" não funciona. As poucas
pessoas que fizeram isso e passaram não são muito normais. Pessoas normais não
suportam muito tempo sem períodos de descanso, se estressam, têm o
rendimento reduzido, passam a ter mais dificuldade para passar e, com o passar
do tempo, não raro, desistem.
Logo,
mais do que se abdicar do sono mínimo, do lazer, da saúde, da atividade física,
do namoro etc., o que seria mais "simples", você, concursando, é
chamado a obter de todas essas atividades aquilo que elas podem contribuir para
seu bem-estar e para o aumento de sua produtividade.
O tempo
fora do estudo não é um tempo perdido, mas, sim um período em que, se
bem-dosado, aumentará seu desempenho além de, naturalmente, impedir que você
agüente a pressão.
E qual
é o ponto de equilíbrio?
Bem,
por favor, quem tiver a fórmula, me envie. Eu não a tenho. Assim como criar
filhos ou manter o amor entre um casal, estabelecer essas fronteiras é um
processo pessoal, progressivo, subjetivo, difícil e imune a fórmulas prontas.
Não existe sabedoria pré-fabricada.
Por
outro lado, existem algumas dicas que podem ajudar:
1.
O equilíbrio é essencial. Ao tomar consciência disso, você estará mais
perto de buscar seu ponto de equilíbrio, caminho muito mais produtivo e
saudável para alcançar seus objetivos;
2.
esteja presente naquilo que está fazendo;
3.
entenda que qualidade vale mais do que quantidade;
4. há
quantidades mínimas de sono, trabalho e outras atividades, sem as quais elas
não rendem. Você deve descobrir suas reais necessidades de cada atividade e
pode melhorar sua relação estando presente nelas (fazendo-as bem e sem pensar
em outras) e até mudar o número de horas a partir de um novo padrão de vida
(Exemplo: a. pessoas sedentárias precisam dormir mais: se você deixar de ser
sedentário, terá mais horas de vida acordado e maior qualidade nelas; b.
pessoas que esquecem os problemas antes de dormir irão mais rapidamente para o
estágio de sono profundo e vão descansar melhor, recuperando-se mais do que
aqueles que ficam remoendo problemas sobre o travesseiro).
5. Não
há um número padrão de horas de estudo onde a aprovação é garantida. O número
de horas ideal é o maior número de horas desde que a pessoa mantenha a
qualidade do estudo e um mínimo de equilíbrio em sua vida pessoal.
6. Se,
após todos os passos para administrar e obter tempo, ainda lhe faltar horas de
estudo no seu dia ou na sua semana, você acabou de descobrir que vai levar mais
anos para passar em um concurso. Tudo bem. Muitos servidores de hoje passaram
pelo que você está passando e atualmente estão realizados. É possível. Mais uma
dica: faça muitos resumos e revisões periódicas, e, eventualmente, reflita
sobre a utilidade dos chamados "concursos escada".
7.
Estas regras não funcionaram apenas para solteiros e sem filhos. Pessoas
casadas, com filhos, com problemas, com doença na família, com idade avançada,
todas elas podem chegar ao sucesso. Não aceite limitações como essas, pois são
ilusórias. O máximo que a vida pode exigir de você é um pouco mais de esforço.
Não
quero me alongar. Desejo, a todos, boas escolhas e muito chocolate.
William Douglas*
*William Douglas é juiz federal, professor universitário, palestrante e autor de mais de 30 obras, dentre elas o best-seller “Como passar em provas e concursos” – www.williamdouglas.com.br.
Oferecimento:
Só não vamos ficar adiando muito e esperar o chocolate derreter. Abram os olhos, e os livros!
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