Quase todas as atividades humanas exigem a mobilização de funções cognitivas e psicomotoras. Praticar esportes num contexto lúdico, como participar de uma partida de futebol, jogar um jogo eletrônico, assistir um filme ou dançar são alguns exemplos. Porém, algumas atividades são consideradas mais prazerosas que outras. E ainda existem atividades que não são consideradas nada prazerosas.
Os estudos voltados à preparação para concursos públicos e exames geralmente são enquadrados no segundo grupo. Ou seja, trata-se de atividades cognitivas que tendem a não serem percebidas como prazerosas.
Mas como trabalhar este obstáculo? Podemos fazer com que o estudo seja tão prazeroso quanto assistir um filme ou uma partida de futebol? Vale lembrar que todas estas atividades envolvem a mobilização de funções cognitivas, ainda que as emoções vivenciadas sejam distintas.
Para superar a mencionada dificuldade é preciso desenvolver estratégias voltadas a trabalhar o prazer em aprender. Tenho dedicado alguns estudos, pesquisas e reflexões a este tema, o qual inclusive já foi objeto de outro texto.
Porém, considero que o prazer em aprender pode ser compreendido em duas perspectivas, sendo uma relacionada ao contexto de estudo e outra relacionada ao processo. O texto mencionado tinha como objetivo trabalhar o contexto, sendo que agora a intenção consiste em trabalhar o processo.
Assim, para trabalhar o prazer em aprender no contexto dos estudos, é importante desenvolver e refletir sobre as estratégias articuladas no mencionado texto (clique aqui para ler Preparação para Concursos e Prazer em Aprender).
Mas quanto ao processo de aprendizagem, existem dois relevantes conceitos a serem considerados. Um se estabelece no plano da estratégia cognitiva, ao passo que outro envolveaspectos neurobiológicos-orgânicos do processo de aprender.
Em relação ao primeiro conceito, podemos trabalhar primeiramente com uma tradicional e relevante idéia sobre a compreensão do processo de aprendizagem, desenvolvida pelo emblemático Jean Piaget, um dos pais das ciências cognitivas.
Segundo Piaget, a aprendizagem passa por três etapas, as quais correspondem à assimilação, acomodação e equilibração. A assimilação consiste na checagem comparativa entre as informações que já temos apropriadas e o novo objeto de conhecimento. Aacomodação consiste na compreensão comparativa, na qual avançamos na apropriação intelectual da nova informação. Já a equilibração envolve a etapa em que alcançamos o domínio do novo conhecimento.
Vamos imaginar o aprendizado do conceito de classificação das constituições quanto à mutabilidade (rígidas, semi-rígidas e flexíveis). Num primeiro momento, checamos esta nova informação considerando o conceito de constituição e poder constituinte derivado, os quais já temos (assimilação). Depois avançamos na compreensão do novo conceito, entendendo que as espécies de constituições quanto ao referido critério, no fundo, são variações de limites à manifestação do poder constituinte derivado (acomodação). E aí, consolidando o domínio e compreensão desta nova informação, chegamos ao estado de equilibração.
É bem verdade que podemos considerar a existência de uma quarta etapa, a qual corresponderia ao desequilíbrio, ao nos depararmos com uma nova informação ou problema em relação ao qual não temos o domínio. E daí, passamos novamente pelo mesmo processo.
Mas o fato que nos interessa, considerando o objetivo do texto, é que o alcance da terceira etapa (equilibração) gera um estado de satisfação. Pense numa situação na qual você quebrava a cabeça para entender um conceito ou informação nova. Como se sentiu após o alcance do seu domínio? A emoção experimentada foi de prazer ou de insatisfação?
Por outro lado, no plano neurobiológico, existem estudos indicativos de que ao conquistarmos esta etapa na qual compreendemos e dominamos a nova informação estudada ocorre, por diversos motivos e dinâmicas bioquímicas, a liberação de um neurotransmissor denominado serotonina. Esta substância é responsável pelo estado de humor.
Ou seja, o prazer causado pela aprendizagem tem um fundamento inclusive de ordem bioquímica.
Tudo isto tem uma lógica parecida com a dialética hegeliana, envolvendo o processo de construção de tese, antítese e síntese. Isto é, nos deparamos com o novo conhecimento, surge um obstáculo para o seu domínio e compreensão, sendo que ao nos apropriarmos entramos num estado de satisfação.
Este é o prazer em aprender inerente ao processo de aprendizagem!
Portanto, saiba que ao se deslocar para o seu ambiente de estudos, estará desenvolvendo uma atividade que ao final poderá lhe proporcionar satisfação. Esta compreensão é importante inclusive para que tome consciência e mude a perspectiva com a qual encara esta atividade.
Existem pessoas que usam drogas, lícitas ou não, para buscar prazer. Ao invés disto, podemos estudar. O custo, do ponto de vista do esforço demandado, pode ser maior, bem como o prazer, naquele momento, não tão intenso assim. Mas o benefício será bem maior.
Curta o prazer em aprender!
Prof. Rogerio Neiva:
- Juiz do Trabalho desde 2002
- Procurador de Estado de junho de 1999 a agosto de 2000
- Advogado da União (AGU) de março de 2001 a agosto de 2002
- Professor Universitário (graduação) – desde de 2000
- Professor de Cursos Preparatórios para Concursos – desde 2000
- Pisocopedagogo com pós graduação latu sensu em psicopedagogia clínica e institucional
- Pós Graduado latu sensu em Direito Público – UDF
- Pós Graduado em Administração Financeira – FGV
- Pós Graduando em Neuroaprendizagem
- Desenvolve orientação voltada à preparação para concursos públicos, a partir de abordagem empírica e científica, trabalhando com três eixos conceituais: Planejamento, Aprendizagem e Gestão Emocional
- Vice-Coordenador da Escola da Magistratura do Trabalho da 10ª Região – Gestão 2005/2007 e 2009/2011
- Membro da Comissão do Conselho Nacional de Justiça instituída para estudos sobre a Emenda Constitucional 62
- Criador do SISTEMA TUCTOR
Autor dos Livros:
- “Como se preparar para Concursos Públicos com Alto Rendimento “; Ed Método; 2010;
- “Concursos Públicos e Exames Oficiais: Preparação Estratégica, Eficiente e Racional”; Ed Atlas; 2009;
- “Temas de Direito do Trabalho aplicado à Administração Pública e a Fazenda Pública no Processo do Trabalho”; Ed Fortium, 2005;
Os nobres Guerreiros, poderão deixar perguntas em comentários aqui no "BLOG CONCURSEIRO GUERREIRO" ou se preferirem podem envia-las para o e-mail: concurseiroguerreiro@hotmail.com - destas selecionaremos uma para produção de um texto escrito pelo próprio Dr. Rogerio Neiva. Avante Guerreiros! DEUS É GRANDE!
Boa noite Professor Rogerio Neiva,
ResponderExcluirEstou estudando para concursos faz pouco tempo( um ano e três meses) porém, observei um queda brusca de produtividade, estudo o dia todo, todos os dias, mas sempre respeitando meus limites. Pratico atividades físicas diariamente.Já li importantes obras sobre preparação para concursos públicos.Enfim, digamos que, teoricamente, me foi indicado o ''caminho das pedras'' e o preço a se pagar. Gostaria de saber se mesmo para aqueles que se dedicam ao máximo é comum quedas bruscas de produtividade e o tempo médio de duração destes ''tempos difíceis''. Deixando claro que não tenho problemas pessoais que me incomodam a ponto de tirar o meu foco. A sensação que tenho é de uma ''estafa mental prolongada''. Agradeço antecipadamente pela atenção. Parabéns pelo seu trabalho. Abr.