sábado, 15 de outubro de 2011

Passou a Prova do Concurso Público: o que fazer?


Ao longo do processo de busca da aprovação no concurso público, havendo uma intensa mobilização e implementação de esforços para determinada prova, principalmente sendo uma prova em relação à qual há grandes expectativas, é natural que muitos candidatos fiquem em dúvida em relação ao rumo a seguir posteriormente. O objetivo do presente texto é tecer algumas ponderações acerca deste tema.
O caso do concurso público do MPU é emblemático. Foram mais de 750 mil candidatos inscritos. E, inegavelmente, houve uma intensa e significativa mobilização. Porém, esta mesma dinâmica pode ser aplicada ao comportamento de candidatos a diversos outros concursos públicos, para várias outras carreiras.
Mas um primeiro aspecto relevante, a ser considerado inicialmente, é que, em tese, ao longo da trajetória de candidatos a concursos públicos, podemos estar numa situação na qual, por um lado, estamos empenhados na preparação para algum ou alguns concursos públicos que ocorrem de forma cíclica. Por outro lado, podemos nos mobilizar em torno de determinado concurso específico, numa ocasião específica.
No primeiro caso, o candidato acaba por ter uma postura que tende a se enquadrar num perfil de longo prazo. Seria a situação, por exemplo, de um candidato que busca a carreira fiscal e presta concurso para cargos desta natureza em diversas unidades da federação. Ou seja, este candidato não promove uma mobilização de ocasião única. O mesmo poderia ocorrer com aquele que pretende um cargo de carreira policial, almejando como objetivo maior a Polícia Federal, mas se mobiliza e acompanha os concursos públicos da Polícia Civil de alguns Estados da Federação. No caso daqueles que almejam a Magistratura da União (Juiz do Trabalho ou Juiz Federal) ou o Ministério Público Estadual (Promotor de Justiça), este comportamento é muito comum. No universo do pessoal que presta concurso público para Juiz do Trabalho, há uma expressão criada em tom de brincadeira de que haveria o “TRTur”, na medida em que, dada a uniformidade de programa e regras do edital, muitos candidatos prestam concursos em diversas Regiões.
Noutro sentido, no caso dos candidatos que se mobilizam em torno de um concurso público específico, é natural que esta mobilização tenha um foco de ocasião única. Por exemplo, vamos imaginar um candidato que se mobilizou em torno do concurso público do MPU, a partir da publicação do edital ou da sua iminência, não tendo imaginado que teria que se mobilizar para outro concurso público. Traduzindo, em outras palavras: elege aquele concurso como a oportunidade única de busca de uma carreira pública. Obviamente que este candidato tende a trabalhar com uma perspectiva de curto prazo. Ainda que conscientemente não reconheça tal compreensão.
Diante destas possibilidades, a primeira ponderação que levanto é de que o concurso público precisa ser encarado como um objetivo de longo prazo. E sustento tal tese não apenas por uma questão de viabilidade, mas também de gestão das condições emocionais. Ou seja, encarar a preparação para o concurso público como uma meta de curto prazo é inviável e traz uma série de conseqüências em termos de frustrações ao candidato.
Não custa lembrar que, conforme tenho sustentado, a preparação para o concurso público deve ser encarada como um verdadeiro empreendimento. Um empreendimento de natureza cognitiva e intelectual. Isto é, qual é o objetivo da preparação para o concurso público? No plano mediato e finalístico maior trata-se, obviamente, da aprovação. Mas no plano imediato, o objetivo consiste na apropriação intelectual de um conjunto de informações passíveis de cobrança no momento da prova.
E esta necessidade de compreensão de longo prazo decorre não apenas do tamanho do objeto de conhecimento a ser intelectualmente apropriado, ou seja, a quantidade de matérias e conteúdos a serem estudados, mas também considerando a complexidade dos processos cognitivos a serem desenvolvidos, para a efetiva apropriação intelectual. Não tenho dúvida de que a fórmula mágica que vai garantir resultados de curto prazo e sem o esforço necessário não existe.
Faço tal afirmação com base em fundamentos científicos, avaliando o processo cognitivo, mas principalmente empíricos. Faz mais de uma década que vivo o universo da preparação para concursos públicos, seja considerando a fase de candidato, seja no âmbito do trabalho de professor de cursos preparatórios.
Como venho reiteradamente sustentado, não há “almoço grátis”. No mesmo sentido, não acredito no êxito do candidato microondas. O candidato microondas é aquele que quer aprovação de forma rápida, fácil e sem esforço. É o que se ilude com as fórmulas mágicas e fáceis. É o que vai para o curso de revisão ou de exercícios dois meses antes da prova, achando que será a solução milagrosa. É aquele que só se mobiliza e se empolga apenas com a publicação do edital.
O fenômeno do concurso público é algo cíclico. Por mais que vozes conservadoras do passado digam o contrário, com o discurso fácil e inconsistente de acusação de inchaço da máquina pública, o país não vai parar de crescer, as demandas da sociedade não vão parar de aumentar e o Estado, enquanto ente responsável pelo atendimento de tais demandas, também não irá se estagnar. Se os governos querem arrecadar mais, precisão contratar mais Auditores Fiscais. Se querem promover execuções fiscais de tributos lançados e inscritos na dívida, terão que contratar Procuradores. Se querem que o processo de execução fiscal ande na Justiça, terão que contratar servidores do Judiciário. Este raciocínio é um pequeno exemplo, pegando apenas uma faceta da atuação estatal.
E vale lembrar que o texto constitucional, bem como a sua interpretação, está cada vez mais contando com a ampliação dos direitos de caráter positivo e prestacionistas, também chamados de direitos de segunda dimensão, assim previstos principalmente no art. 6º da Constituição Federal. A recente Emenda Constitucional 64, que inseriu o direito à alimentação no mencionado dispositivo, é apenas um exemplo desta compreensão.
Portanto, passada a prova, para aqueles que trabalharam com uma perspectiva de mobilização de ocasião única, valorizando de forma intensa um único concurso e adotando uma visão de curto prazo, é hora de pensar um novo modelo de preparação, com a estruturação de um planejamento de longo prazo. Já para aqueles que contam com uma perspectiva de longo prazo, que assim se mantenham, sendo que a idéia das fases da preparação, envolvendo a etapa da apropriação intelectual primária e depois secundária, conforme a metodologia que venho propondo, pode ser de grande utilidade.

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